quinta-feira, 31 de março de 2011

No sinal

30 de março de 2011, São Paulo, 16hs.

Duas crianças aguardam o sinal fechar. A menina de 4 anos de idade, um vestido rosa e cabelos compridos.  O garoto de seus 8 anos, bermuda cinza, camiseta regata vermelha com desenhos da moda. Ambos de chinelos de dedo nos pés.

Finalmente o sinal fecha e os dois iniciam sua empreitada. Ele coloca nos retrovisores dos carros pequenos pacotes contendo balas e uma mensagem. Enquanto se aproxima dos carros, dirige um grande sorriso aos motorista e estende a mão para cumprimentá-los. Curiosamente, ninguém lhe nega o aperto de mão. Logo em seguida, cantarolando e saltitando vem a menininha recolhendo os pacotinhos que não foram vendidos e com um sorriso maior que do irmão, agradece.

O sinal abre e as crianças voltam a calçada, novamente em direção à esquina. O menino afaga os cabelos da irmã que lhe retribui com um beijinho nas mãos.

Encostam-se em um poste onde observam o movimento. A menininha cantarolando ainda, pega uma boneca e começa a brincar. O menino, agora sem sorrir e com olhos profundamente tristes, apenas observa o sinal, a irmã, e a rua, talvez com a esperança de uma outra vida...

Mas o sinal abre outra vez e ele já não tem tempo para sonhos.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Solidão

Sofia nunca teve vontade de ser mãe. Até o dia em que o conheceu.

Pedro era um rapaz bonito, moreno e de olhos tristes, doce, gentil e educado.

Embora sentisse um enorme ímpeto de descobrir o por que de tanta tristeza em olhos tão lindos, não ousou perguntar.

A proximidade do trabalho os tornou amigos, mas apesar de se considerar amiga de Pedro, este raramente falava de si, ou de sua familia.

Pedro tinha um irmão e pais separados. Estudava e acabara de conseguir seu primeiro emprego. E era tudo que Sofia conseguiu saber no primeiro ano.

Foi em um churrasco de aniversário na casa de Pedro que Sofia pode entender melhor aquele olhar, que intimamente chamava de "olhos de buldogue velho", mas que lhe despertavam tanta curiosidade e compaixão.

Vitor, irmão mais novo de Pedro era seu oposto. Extrovertido, não perdia a piada e nem o amigo. Era o primo brincalhão, o carinha das batidas e a pessoa mais arrogante que Sofia já tivera o desprazer de conhecer. A antipatia foi imediata, e a raiva surgiu quando o troglodita tentou beija-la no corredor para o banheiro. Sofia achou melhor um castigo que aquele cara como irmão.

O pai de Pedro era simpático e inteligente. Pedro se parecia muito com ele se não fosse o complexo de Dom Ruan do qual o homem sofria. Pedro ao contrário, jamais insinuou qualquer coisa, para desespero de Sofia que não sabia se era timidez ou desisteresse mesmo.

A mãe, uma daquelas mulheres que precisam se auto afirmar o tempo todo, insegura, muito bonita e um tanto antipática. A paixão da vida de Pedro. Sofia chegou até a sentir um certo ciúmes dela. Como queria ser elao amor da vida daquele menino...

Pedro não tinha amigos.

Naquele dia Pedro sentiu-se mais a vontade  e quano Sofia resolveu aproveitar a carona de outra colega e ir embora, Pedro segurou sua mão e pediu que ficasse mais um pouquinho, "te levo", disse ele com uma piscadinha. Sofia não pode resistir. Esperara por esse momento nos últimos 12 meses.

A partir dai Pedro a apresentou para a família, onde ia a levava, e quando todos pareciam ter ido embora, estirou-se na calçada de frente da casa e começou a falar.

Enquanto ouvia Pedro contar sobre sua vida, Sofia tinha a sensação de que era Pedro quem tinha esperado por esse momento, mas por toda sua vida e não só por alguns meses.

Pedro falou de sua infância, de como o irmão o ignorava e do quanto isso o magoava. Contou das dezenas de casos do pai e do distanciamento de sua mãe, que havia se casado de novo e mudado de estado.

Enquanto ele falava, Sofia sentiu vontade de ser mãe. Não mãe dos filhos dele, mas mãe dele! Queria pegar aquele homenzarrão de mais de 1,90m, coloca-lo no colo, lhe fazer um cafuné, contar uma história e coloca-lo para dormir.

Sofia nunca tinha conhecido alguém tão solitário como Pedro, e isso lhe cortou o coração. Quis ajuda-lo, mas não sabia como.

Ali, ja de madrugada, com o sereno no rosto, Sofia coheceu o garoto que a encantava a tanto tempo, e ela desejou que toda aquela tristeza, aquela mágoa, aquela solidão se dissipassem no amanhecer, assim como o sereno daquela noite. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cegos do castelo



Saudades? 

Acho que não!

Prefiro a mulher na qual me transformei!!