Maricotinha era uma menina sem sal e sem açúcar. Muito magricela, branca de dar dó em vela!! Sua vozinha esganiçada assustava os passarinhos que vinham aos beirais das janelas da fazenda de D. Flor.
D. Flor era a vovó que qualquer um sonhava. Gentil e bondosa. Caaallllmmmaaaa... Quando contava histórias dos bichos e lendas da floresta, toda criançada logo caia no sono. Exceto Maricotinha, é claro.
Eita menina danada!!! Tinha fogo nas ventas e redemoninho nos pés. Por onde passava levava copos, bandejas e almofadas ao chão. As férias de dezembro eram suas preferidas. Corria pela fazenda, chafurdava na lama, montava à cavalo e comia muito bolo de fubá com erva doce.
Maricotinha morava na cidade mas achava muito chato. Preferia a vida na fazenda de D. Flor, os balanços de pneu amarrados à troncos de árvores, as montarias no pangaré Barnabé, (seu amigo de verdade), a brincadeira com os primos, à aquele monte de cinza chumbo dos prédios de São Paulo.
Nessa época tinha ela 6 aninhos, olhos brilhantes e o coração cheio de curiosidades.
Sua infância seguiu nessa alegria de esperar pelas férias na casa de D. Flor com os primos e amiguinhos à beira da fogueira ouvindo histórias de terror, os banhos de rio gelado e aqueles montes de vermes que deixavam a mãe e o pediatra loucos de preocupação.
O tempo passou, e os pais de Maricotinha se separaram. As visitas à fazenda de D. Flor foram rareando.
Maricotinha cresceu, virou adolescente, agora com 16 anos já não tinha mais tanto interesse nas noites da fazenda.
Certa noite, quando já dormia, o telefone toca. Era seu pai. D. Flor havia partido de um mal súbito que tomou a todos de surpresa. Era a primeira vez que Sofia se deparava com a morte!
Em seu velório, Maricotinha lembrou-se dos carinhos da vovó, sus bolinhos e histórias. Sentiu saudades de D. Flor e perguntou-se, retoricamente, por quê afastara-se tanto da fazenda, de Barnabé, das fogueiras... de D. Flor.
Em sua lembrança sentiu o cheiro de flores e lenha de fogão da vó, fez uma oração e foi embora. Não queria ver D. Flor presa em uma caixa debaixo da terra. Preferia guardar D. Flor contando histórias e chamando seu nome para o almoço...
MARICOTINHAAAAAAAAAA...
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