quinta-feira, 1 de julho de 2010

E era copa do mundo...

Julho de 2002. Copa do mundo...

E Sofia odiava as Copas do Mundo. E Sofia odiava essa em especial. Tinha se casado há 5 dias quando o campeonato começou. Mal voltara da lua de mel em Bonito, fazendo trilhas, proxima à natureza, comendo comidinhas de fazenda e... o inferno das cornetas, dos rojões e dos palavrões!!

Como eram recém casados, Marcelo não quis deixa-la para assistir os jogos em casa de amigos ou bares. Fez melhor, lhe disse quando descarregavam as malas do taxi: "Convidei a turma para assistir os jogos aqui em casa. Assim ficamos juntinhos!"

"Desculpa esfarrapada" pensou Sofia. Quis se separar de Marcelo imediatamente, mas se arrependeu no minuto seguinte. Marcelo lhe carregou no colo até o apartamento, subindo todos aqueles lances de escada... Sofia preocupada com as malas e Marcelo dizendo, "Seu Agnaldo traz depois...".

Chegaram ao topo. Marcelo ofegante e casado, e Sofia se matando de tanto ir da cara do marido.

Marcelo tinha dessas. De repente passavam dias sem se falar direito, e no meio da tarde lá estava ele no escriotório em que Sofia trabalhava para buscá-la para um café ou outras escapadinhas mais audaciosas.

Embora amasse o marido, Sofia continuava odiando futebol, odiando os amigos de Marcelo, odiando ter que cozinhar para aquele bando de gente que sujava seu tapete novinho, fazia xixi fora do vaso e tirava tudo o que podiam do lugar.

Cada final de jogo parecia que ela mesma havia jogado os 90min.

Como Marcelo achava a mulher entediada durante as partidas, inventou de pedir aos amigos que trouxessem suas esposas no próximo jogo.

Sofia preferia a morte!

Quando aquelas mulheres frescas entraram em sua casa, Sofia ja sabia que no dia seguinte teriam um velório. Ou o seu, ou o de Marcelo.

Ao final do primeiro tempo umas das mulheres desceu à garagem e voltou com uma sacola cheia de roupas que dizia serem de grife. Sofia duvidava qua alguém fosse capaz de colocar uma calça da MOfficer em uma sacola de feira, mas se fez de interessada para agradar o marido. Marcelo pediu que escolhesse qualquer peça, que lhe daria de presente. Sofia perguntou a mulher das sacolas "Qual a mais cara?" e a mulher lhe mostrou uma blusa transparente que não caberia em uma criança de 5 anos, coisa que ela jamais usaria mas escolheu essa, só para "castigar" o marido!

No apito final do árbitro, um suspiro aliviado da anfitriã que depois de sua "compra" ficara sentada no canto do quarto em uma delicada poltrona virada para janela.

As roupas ja não estavam em sacolas de feira, estavam todas espalhadas pelo quarto e as mulheres entrando e saindo do banheiro, ora nuas, ora com peças de roupas que Sofia achava muito estranhas.

Uma delas ainda lhe disse "Onde estava você? Perdeu o melhor da festa!". Sofia riu e disse que não se sentia bem. As mulheres começaram a cochichar. "Você não está grávida?" perguntou uma muito magra, esposa do chefe de Marcelo.

Por um instante Sofia realmente viajou. Imaginou-se grávida, crianças correndo pela sala, natais com Papai Noel... Seria possível?

Olhou para a mulher magrela, deu um suspiro e se jogou no chão fingindo desmaio. Só "acordou" depois que Marcelo colocou todos pra fora do apartamento.

Marcelo parecia preocupado e Sofia pensou em contar-lhe que havia fingido e que não precisava se preocupar, que não gostara daquelas mulheres e que prefria passar as tardes de jogo sozinha, mas antes que pudesse Marcelo lhe perguntou:

"Não é verdade né Sofia? O que a Vera disse sobre gravidez..."

"Vera", pensou Sofia... esse era o nome da magricela. Não tinha sequer perguntado o nome daquelas mulheres todas. Sentia-se muito mal educada. Marcelo percebendo a desantenção da esposa, lhe chamou a atenção.

"Você sabe que não podemos ter um filho agora. Estou para ser promovido e uma criança não facilitaria nada pra mim... Para nós."

Sofia, que havia gostado da idéia do filho fitou o marido por alguns instantes e nada respondeu.

Marcelo a decepcionara e não havia mais nada a ser dito.

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