sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Ano Novo!!

Hoje, 30/12/2011, é o último dia útil do anos, mas você já parou pra pensar quantos dias desse ano foram realmente úteis?


Em quantos dias você de fato trabalhou duro? Quantos dias você fez caridade? Em quantos dias desse ano você realmente fez valer a pena a palavra utilidade?


Impossível dizer! 


Eu mesmo, tenho tido dias inteiros de inutilidade...


Acho lindo, e ao mesmo tempo estranho, esse sentimento de fim e recomeço que o reveilon traz nas pessoas. Porque na verdade o dia 01/01/2012 só será mais um dia, ou menos um dia... depende de como você vê as coisas.


De qualquer forma, o dia 31 de dezembro é um dia mágico onde as pessoas se prometem fazer coisas, onde as energias e esperanças são renovadas. 


É um dia onde, (com exceção do México que comemora o ano todo), se comemora a morte. A morte de um ano e o nascimento imediato de outro.


Confesso que naqueles anos difíceis, chorei na passagem do ano com um enorme suspiro e aquela sensação "ufa. Acabou".


Serão mais 12 meses pela frente. Iguais em nome e número de dias à todos os outros anos, mas com a diferença de que, dependendo de nós, poderá ser completamente diferente.


Acho lindo o reveilon mas queria que ele durasse o ano todo. O clima de otimismo, de fraternidade, de esperança...


Se tenho algo a desejar aos meus amigos, (e aos inimigos também, porque não?) é que os 365 dias de 2012 sejam sempre repletos de reveilon, fogos de artifício e cidra de maça para brindar.


Que as esperanças e o otimismo vençam as tristezas e dificuldades. Que estejamos juntos, próximos ou distantes, mas juntos, de alma e de coração!


Feliz ano novo e que venha 2012 com suas promessas de fim do mundo!! 

sábado, 8 de outubro de 2011

Pelas lentes

Por traz das lentes ele vê o mundo.


Não das lentes de pernas que o ajudam a te ver melhor...


São outras as lentes luz de seus olhos. 


São as lentes de botões que o levam novamente à infância, e após à adolescência, e após a maturidade, e de novo ao início dos dias...


Quando fala de suas novas lentes, seus olhos brilham e a alegria que há tempos não se via em seu sorriso, esbanja sonoridades.


Por de traz daquelas lentes ele vê o mundo, ele registra sua forma e as formas que registra transformam-se em pequenos pedaços de si. Do que viveu, do que amou, do que morreu...


Por de traz daquelas lentes ele acredita que vê o mundo. Mal sabe ele que agora é mundo que o vê. 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quem tem medo da morte?

Sofia não chorou quando soube que estava com câncer.

Enquanto a médica lhe explicava sobre as complicações da doença, tratamentos, remédios, efeitos colaterais... Sofia só pensava no cheiro do mar de manhã cedo, no vento em seu rosto durante um passeio de carro nas montanhas, no calor do sol a beira d piscina em uma festa com amigos...

Sofia não queria morrer! Amava a vida, mas sobretudo, amava a sua vida.

A médica perguntou a ela se preferia conversar um outro dia mas Sofia não era daquelas que deixava para a amanhã. Queria saber de tudo e principalmente quais seriam suas chances.

Sofia não quis dirigir aquela tarde. Pegou um taxi e deixou o carro no estacionamento da clínica. A recepcionista não reclamou, disse que até era comum que pacientes preferissem não dirigir após uma consulta.

Chegando em casa foi direto ao chuveiro. Pensava melhor com o som da água escorrrendo por seu corpo. Não sabe quanto tempo ficou lá, sem pensamentos coordenados, sentindo a água morna caindo em sua cabeça.  

Marco chegou e quis saber como havia sido sua consulta, mas perguntou primeiro pelo carro.

Sofia ja esperava. "Homens..." pensou ela. O carro vermelho foi presente de aniversário mas Marcos tinha mais ciúmes do automóvel do a própria Sofia.

Ela lhe deu uma desculpa qualquer de que havia acabado a gasolina, ou o pneu estava furado. Tranquilizou-o dizendo que estava em um estcionamento, e ai então ele lhe perguntou sobre os exames.

Por um instante a respiração de Sofia suspendeu-se. O que deveria fazer? O marido ali, a olhando no banho, encostado na bancada da pia, aguardando que ela dissesse "Esta tudo bem!" e ela com um péssima notícia para lhe dar...

Marcos perguntou novamente sobre a consulta e Sofia lhe respodeu o que ele queria ouvir:

- Foi tudo bem.

O marido passou então a lhe contar sobre seu dia, o trânsito, o chefe...

Sofia desligou-se do momento e só pensava porque havia mentido para o marido... Só saiu de seu transe quando o marido entrou no box consigo para tomar banho também. Fizeram amor no chuveiro e Sofia teve a certeza absoluta de que o amava.

Sofia estava mais calada aquela semana mas Marcos tinha tanto trabalho que agradeceu pelo silêncio da esposa.

Passados 10 dias da consulta médica, Sofia preparou um jantar, pediu que o marido voltasse mais cedo para casa, comprou roupas novas e flores.

Marcos ficou surpreso! Queria saber o porque de tão especial comemoração.

Jantaram, conversaram e riram como não faziam há muito tempo.

Após a sobremesa, Sofia sentou-se no colo do marido e lhe contou sobre o diagnóstico de sua doença. Marcos ouviu tudo calado, com o olhar vazio procurando o nada. Quando ela terminou ele a apertou forte contra o peito, lhe beijou a testa e disse:

- Você não vai morrer!!

Sofia, pela primeira vez em dias, libertou todo o choro e todo o medo que sentira aqueles dias. Sabia que o marido estava mentindo, mas a espenrança de Marcos a fazia querer lutar.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Os Gays e a Bíblia por Frei Beto

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda.

Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”...).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo.

Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos? 

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

No sinal

30 de março de 2011, São Paulo, 16hs.

Duas crianças aguardam o sinal fechar. A menina de 4 anos de idade, um vestido rosa e cabelos compridos.  O garoto de seus 8 anos, bermuda cinza, camiseta regata vermelha com desenhos da moda. Ambos de chinelos de dedo nos pés.

Finalmente o sinal fecha e os dois iniciam sua empreitada. Ele coloca nos retrovisores dos carros pequenos pacotes contendo balas e uma mensagem. Enquanto se aproxima dos carros, dirige um grande sorriso aos motorista e estende a mão para cumprimentá-los. Curiosamente, ninguém lhe nega o aperto de mão. Logo em seguida, cantarolando e saltitando vem a menininha recolhendo os pacotinhos que não foram vendidos e com um sorriso maior que do irmão, agradece.

O sinal abre e as crianças voltam a calçada, novamente em direção à esquina. O menino afaga os cabelos da irmã que lhe retribui com um beijinho nas mãos.

Encostam-se em um poste onde observam o movimento. A menininha cantarolando ainda, pega uma boneca e começa a brincar. O menino, agora sem sorrir e com olhos profundamente tristes, apenas observa o sinal, a irmã, e a rua, talvez com a esperança de uma outra vida...

Mas o sinal abre outra vez e ele já não tem tempo para sonhos.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Solidão

Sofia nunca teve vontade de ser mãe. Até o dia em que o conheceu.

Pedro era um rapaz bonito, moreno e de olhos tristes, doce, gentil e educado.

Embora sentisse um enorme ímpeto de descobrir o por que de tanta tristeza em olhos tão lindos, não ousou perguntar.

A proximidade do trabalho os tornou amigos, mas apesar de se considerar amiga de Pedro, este raramente falava de si, ou de sua familia.

Pedro tinha um irmão e pais separados. Estudava e acabara de conseguir seu primeiro emprego. E era tudo que Sofia conseguiu saber no primeiro ano.

Foi em um churrasco de aniversário na casa de Pedro que Sofia pode entender melhor aquele olhar, que intimamente chamava de "olhos de buldogue velho", mas que lhe despertavam tanta curiosidade e compaixão.

Vitor, irmão mais novo de Pedro era seu oposto. Extrovertido, não perdia a piada e nem o amigo. Era o primo brincalhão, o carinha das batidas e a pessoa mais arrogante que Sofia já tivera o desprazer de conhecer. A antipatia foi imediata, e a raiva surgiu quando o troglodita tentou beija-la no corredor para o banheiro. Sofia achou melhor um castigo que aquele cara como irmão.

O pai de Pedro era simpático e inteligente. Pedro se parecia muito com ele se não fosse o complexo de Dom Ruan do qual o homem sofria. Pedro ao contrário, jamais insinuou qualquer coisa, para desespero de Sofia que não sabia se era timidez ou desisteresse mesmo.

A mãe, uma daquelas mulheres que precisam se auto afirmar o tempo todo, insegura, muito bonita e um tanto antipática. A paixão da vida de Pedro. Sofia chegou até a sentir um certo ciúmes dela. Como queria ser elao amor da vida daquele menino...

Pedro não tinha amigos.

Naquele dia Pedro sentiu-se mais a vontade  e quano Sofia resolveu aproveitar a carona de outra colega e ir embora, Pedro segurou sua mão e pediu que ficasse mais um pouquinho, "te levo", disse ele com uma piscadinha. Sofia não pode resistir. Esperara por esse momento nos últimos 12 meses.

A partir dai Pedro a apresentou para a família, onde ia a levava, e quando todos pareciam ter ido embora, estirou-se na calçada de frente da casa e começou a falar.

Enquanto ouvia Pedro contar sobre sua vida, Sofia tinha a sensação de que era Pedro quem tinha esperado por esse momento, mas por toda sua vida e não só por alguns meses.

Pedro falou de sua infância, de como o irmão o ignorava e do quanto isso o magoava. Contou das dezenas de casos do pai e do distanciamento de sua mãe, que havia se casado de novo e mudado de estado.

Enquanto ele falava, Sofia sentiu vontade de ser mãe. Não mãe dos filhos dele, mas mãe dele! Queria pegar aquele homenzarrão de mais de 1,90m, coloca-lo no colo, lhe fazer um cafuné, contar uma história e coloca-lo para dormir.

Sofia nunca tinha conhecido alguém tão solitário como Pedro, e isso lhe cortou o coração. Quis ajuda-lo, mas não sabia como.

Ali, ja de madrugada, com o sereno no rosto, Sofia coheceu o garoto que a encantava a tanto tempo, e ela desejou que toda aquela tristeza, aquela mágoa, aquela solidão se dissipassem no amanhecer, assim como o sereno daquela noite. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cegos do castelo



Saudades? 

Acho que não!

Prefiro a mulher na qual me transformei!!


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O primeiro dia de aula!

Naquele dia a saudade visitou Sofia.

Naquele início de tarde, no trânsito da hora do almoço, Sofia parou no sinal e ao invés de verificar o celular, olhou para o lado.

Nunca havia reparado que naquela rua que passava todos os dias havia uma escola.

Sofia não se lembrava da primeira vez na vida em que fora para escola, mas se lembrava da primeira vez que fora a escola onde cursou o colegial.

No horário em que a mãe a mandara, lá estava ela: camiseta do uniforme, rabo de cavalo, fichário com fotos de artistas famosos, um perfume que ganhara no natal, calças jeans... Nossa! Sofia se surpreendeu com sua memória!

Chegou à frente da escola e os portões sequer haviam sido abertos. Odiou a mãe por te-la feito ir tão cedo a um local onde não conhecia ninguém. Queria se enterrar, mas em vez disso, encostou no muro e buscou desesperadamente por um rosto conhecido. Nada.

Sofia não conhecia ninguém. Seus amigos foram transferido para outra escola e Sofia ficou sozinha.

Quando o portão abriu, Sofia se sentiu ainda pior. Com quem conversaria? Onde poderia se sentar? Quanto tempo levaria até que chegasse à loucura total?

O dia passou devagar, e Sofia se sentia em um campo de concentração. No intervalo quase se afogou no vaso sanitário do banheiro, mas antes que colocassse seu plano em prática, tocou o sinal e Sofia sentiu-se aliviada. Pelo menos na sala de aula não precisava falar nada. Seria a melhor aluna da turma, aquela que não conversa com ninguém! Nunca!

Chegou em casa, correu para o banheiro e chorou em baixo do chuveiro.

Os dias passaram, e a cada um deles Sofia gostava mais daquele lugar. Fez dezenas de amigos, se apaixonou, namorou, foi uma das melhores alunas da turma e conversou muito, participou dos jogos interescolares.

Ali em seu carro, Sofia sentia o cheiro da sala de aula e o gosto da polenta da merenda na boca. Lembrava doa amigos... onde estariam? Poucas amizades sobreviveram à faculdade...

De repente sentiu-se muito velha, olhando aquelas adolescentes fazendo e pensando as mesmas coisas que ela... mas isso fora há muito tempo atrás...

O sinal abriu e Sofia despertou de suas deliciosas lembrança com uma enxurrada de buzinas, mas com um sorriso nos lábios que só a saudade de tempos felizes é capaz de proporcionar. Voltou para a vida real, mas não sem antes gritar pela janela:

"Passa por cima!!"

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A amizade

"Lembrei-me dele e senti saudades… Tanto tempo que a gente não se vê! Dei-me conta, com uma intensidade incomum, da coisa rara que é a amizade. E, no entanto, é a coisa mais alegre que a vida nos dá. A beleza da poesia, da música, da natureza, as delícias da boa comida e da bebida perdem o gosto e ficam meio tristes quando não temos um amigo com quem compartilhá-las. Acho mesmo que tudo o que fazemos na vida pode se resumir nisto: a busca de um amigo, uma luta contra a solidão… 


Lembrei-me de um trecho de Jean-Christophe, que li quando era jovem, e do qual nunca me esqueci. Romain Rolland descreve a primeira experiência com a amizade do seu herói adolescente. Já conhecera muitas pessoas nos curtos anos de sua vida. Mas o que experimentava naquele momento era diferente de tudo que já sentira antes. O encontro acontecera de repente, mas era como se já tivessem sido amigos a vida inteira. 

A experiência da amizade parece ter suas raízes fora do tempo, na eternidade. Um amigo é alguém com quem estivemos desde sempre. Pela primeira vez estando com alguém, não sentia necessidade de falar. Bastava a alegria de estarem juntos, um ao lado do outro. “Christophe voltou sozinho dentro da noite. Seu coração cantava ‘Tenho um amigo, tenho um amigo!’ Nada via. Nada ouvia. Não pensava em mais nada. Estava morto de sono e adormeceu assim que se deitou. Mas durante a noite fora acordado duas ou três vezes, como que por uma idéia fixa. Repetia para si mesmo: ‘Tenho um amigo’, e tornava a adormecer.” Jean-Christophe compreendera a essência da amizade. Amiga é aquela pessoa em cuja companhia não é preciso falar. 


Você tem aqui um teste para saber quantos amigos você tem. Se o silêncio entre vocês dois lhe causa ansiedade, se quando o assunto foge você se põe a procurar palavras para encher o vazio e manter a conversa animada, então a pessoa com quem você está não é sua amiga. Porque um amigo é alguém cuja presença procuramos não por causa daquilo que se vai fazer juntos, seja bater papo, comer ou jogar . Até que tudo isso pode acontecer. Mas a diferença está em que, quando a pessoa não é amiga, terminando o alegre e animado programa, vêm o silêncio e o vazio – que são insuportáveis. Nesse momento o outro se transforma num incômodo que entulha o espaço e cuja despedida se espera com ansiedade. Com o amigo é diferente. 


Não é preciso falar. Basta a alegria de estarem juntos, um ao lado do outro. Amigo é alguém cuja simples presença traz alegria, independentemente do que se faça ou diga. A amizade anda por caminhos que não passam pelos programas. 


Uma estória oriental conta de uma árvore solitária que se via no alto da montanha. Não tinha sido sempre assim. Em tempos passados a montanha estivera coberta de árvores maravilhosas, altas e esguias, que os lenhadores cortaram e venderam. Mas aquela árvore era torta, não podia será transformada em tábuas. Inútil para os seus propósitos, os lenhadores a deixaram lá. Depois vieram os caçadores das essências em busca de madeiras perfumadas. Mas a árvore torta, por não ter cheiro algum, foi desprezada e lá ficou. Por ser inútil, sobreviveu. Hoje ela está sozinha na montanha. Os viajantes se assentam sob a sua sombra e descansam. Um amigo é como aquela árvore. Vive de sua inutilidade. Pode até ser útil eventualmente, mas não é isso que o torna amigo. Sua inútil e fiel presença silenciosa torna a nossa solidão uma experiência de comunhão. Diante do amigo, sabemos que não estamos sós. E alegria maior não pode existir."

(por Rubem Alves – do livro ‘O retorno e Terno’)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Só isso que eu tinha pra falar

"Mentira é algo que a gente mesmo inventa para os outros porque cada um tem suas próprias verdades." 

De mim para vocês...