sexta-feira, 20 de novembro de 2009

No escuro

E lá estava ela. Diante do vidro da janela, espiando para dentro na ânsia de um vulto.

Encostou o ouvido na porta. Nada. Nenhum sinal de que aquela casa estaria habitada.

Tomou fôlego e bateu. Bateu tão devagar que não seria possível ouvi-la.

Tomou coragem, mais um pouco de fôlego e bateu novamente, mas dessa vez suas batidas ecoaram pelos cômodos vazios e podiam ser ouvidas nas casas visinhas.

Ninguém veio recebê-la.

Num impulso quase infantil mexeu na maçaneta e para seu espanto, a porta abriu.

"Não há trancas!" pensou ela assombrada.

"Como nos dias de hoje alguém seria capaz de deixar as portas abertas, sem trancas?"

Atrás de si a porta bateu, dando-lhe aquela estranha senssação de que não haveria volta.

A noite caía e a penumbra que se fazia pelas paredes a deixava assustada e curiosa.

Procurou por interruptores. Não havia lâmpadas!

Chamou! Chamou!

Realmente não havia ninguém lá.

Quando pensou em desistir, uma forte tempestade a obrigou a ficar.

Passou a explorar o lugar. No escuro. Nada lhe era familiar e isso a deixava cada vez mais excitada.

Não haviam móveis, nem quadros, nem telefone. Mas não precisaria de telefones ali.

Sentiu os cheiros do lugar. Tateou as diferentes texturas das paredes, do piso e dos azulejos.

Como jamais quisera entrar ali? Por que, mesmo depois de tantos anos, nunca tivera a curiosidade de conhecer aquele lugar incrível!

A chuva foi passando e o sono foi tomando conta de seu corpo e de sua mente.

Em um quarto amplo encontrou uma poltrona. Deitou-se e adormeceu. Sonhou com campos de flores, com o mar e com sua infância.

Pela manhã estava em casa. Janela aberta, o Sol batendo forte em seu rosto.

Perdera a hora!!!

Uma saudade inesplicável daquele lugar que visitara e a certeza de que esta noite poderia voltar lá novamente.

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