Acordou, mas ainda estava com sono.
Os dias chuvosos costumavam deixa-la mais à vontade, mas este a deixou deprimida.
Dali a poucos dias seria seu aniversário.
Não sabia por que mas aniversários a incomodavam.
Ficou na cama ainda mais um pouco, pensando no que fizera da sua vida até ali.
O cachorrinho veio lhe lamber a cara e lhe avisar que estava atrasada. Haviam encaminhamentos a fazer, relatórios a produzir, e que certamente estariam esperando por ela no escritório. Vestiu-se e foi tomar café.
O aniversário não lhe saia da cabeça. Faria uma festa? Não. Todas as suas tentativas nos últimos anos foram frustradas e desastrosas. Melhor ficar em casa, espiar pelo Orkut quem se lembrara dela, e se contentar com os poucos telefonemas que costuma receber. Sim, é isso! Contentar-se com o de sempre...
Entrou no ônibus lotado, com janelas fechadas por conta de um desagradável chuvisco da manhã. De salto, descobriu o que lhe incomodava tanto!! "O de sempre". Não... ela não era assim, como pudera pensar em tal bobagem? Não se contentava com "o de sempre"!! Nem seus sonhos costumavam ser parecidos!
Mas o tempo passando lhe trazia sempre a senssação de "o de sempre". Tudo se repetia numa constância, numa rotina...
Desceu do ônibus, entrou no prédio, cumprimentou os conhecidos apenas com um leve aceno de cabeça. Chamou pelo elevador, 17º andar. No rádio ouviu Fernanda Takai cantando "tempo, tempo, mano velho, falta um pouco ainda, eu sei, pra voce correr macio..."
Pensava quando o tempo correria macio para si? Tudo sempre em constante movimento. Seus relatórios exigiam prazos, o horário no cabeleireiro sábado, esperar o ônibus lotado para ir e voltar, os saltos de sapato que precisavam ser arrumados... Lembrou-se que não poderia ir ao cabeleireiro, havia o casamento daquela amiga da faculdade, o cabelo ficaria desgrenhado por mais uma semana.
"Preciso de uma agenda", pensou. Sua cabeça já não lhe favorecia como na adolescencia e ela já não conseguia lembrar de tudo, e naquele 1º de dezembro, a primeira coisa que faria seria comprar um agenda 2010.
O elevador parou no andar solicitado, mas ela ficou ali pensando na agenda 2010... a porta se fechou e o elevador voltou a movimentar-se. Ultimo andar. Resolveu descer. Nunca estivera no 22º. Três anos de empresa e nunca tivera tempo de conhecer o prédio em que trabalhava!!
"Ah, tempo danado"... pensava ela enquanto subia para o terraço.
Lá de cima a cidade era linda!!! Silenciosa!! O Sol resolvera dar o ar da graça e a abraçou suavemente enquanto sentava no beiral.
Agora além do aniversário, a agenda lhe incomodava. Um monte de papel determinando o que teria a fazer, seus horários... não, isso não era pra ela, como "o de sempre" não era.
Ela vivia num mundo que não era seu. Um mundo de regras e de controloes, enquanto o que ela queria era apenas liberdade. Aquela que experimentara naquele momento, mesmo sabendo dos relatórios, do chefe e da reunião das 10hs, lá estava ela, fazendo nada em uma terça feira 1º de dezembro.
Desistiu da agenda, faria apenas o que sua cabeça lhe determinasse prioridade. Sabia que esqueceria muitas coisas, mas seria assim...
O aniversário (?) ... não poderia pular o dia do calendário... resolveu que esperaria algum amigo lhe promover uma festa surpresa. Iria ao shoping, depois andar de bicicleta no parque, depois iria para casa, ligaria para aquele alguém especial e o convidaria para jantar, se tivesse coragem...
Pronto! Tudo resolvido.
Enquanto sentia o vento no rosto o Sol foi ficando mais forte. De repente lembrou-se que havia um trabalho a lhe esperar alguns andares mais abaixo, mas não foi antes de se despedir. Ja sabia para onde ir quando o tempo não lhe desse um tempo.
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